sexta-feira, 23 de março de 2012

EU, O VIRA FOLHA! O BARÇA DE MESSI E STEVE JOBS.

LONGA CARTA PARA OS DEUSES DO FUTEBOL
Por Luigi Russo

FC BARCELONA
CRUZEIRO ESPORTE CLUBE

Nasci Cruzeirense. "Famiglia" italiana, então já viu, né!
Muito pequeno, aos domingos, na casa de minha bisavó, minha "Nonna", depois dos jogos do Cruzeiro, me arrastava por entre uma floresta de pernas gigantes, que ao crescer, entendi se tratarem de pernas de "gigantes" mesmo.
Meu primeiro contato com o Cruzeiro lembra aqueles filmes, onde a máfia se reúne em uma enorme cozinha aberta, ligada a uma sala, todos comendo, bebendo, falando alto e cantando ao mesmo tempo. Conforto em família e alegria, muita alegria.
Depois dos jogos, as vezes o time do Cruzeiro ia para casa da minha bisavó, para morrer de rir, "mangiare la pasta" e tomar todas. Outros tempos.
O ponta esquerda Hilton de Oliveira, daquele time de gigantes do futebol, que tinha Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Natal e Raul, era casado com minha prima Mariza, que com aqueles enormes olhos azuis esverdeados, era uma das mais belas mulheres da cidade naquele tempo. Um "sortudo", casado com aquela bela mulher e ponta esquerda absoluto daquele Cruzeiro.
Tenho ainda hoje um amigo, um senhor chamado Mário Jorge, que foi durante anos, reserva do Hilton. Ele me contou há alguns anos que, quando o Hilton ia bater escanteio, apoiava as mãos sobre o encontro das pernas e o tronco. Os torcedores dos times rivais achavam que era máscara. O Mário Jorge achava que poderia ser sua grande sorte.
Na verdade, enquanto o Hilton "empurrava" para dentro a hérnia que ninguém sabia estar pulando para fora, Mário Jorge "rezava" para que elas pulassem no gramado e assim tivesse sua grande chance de ser titular daquele time. E que time!
É Mario Jorge, nunca aconteceu...
Hilton "guardava" a hérnia, batia o escanteio perfeito e corria para o abraço. Outros tempos.
Nesta época, o timaço Santos, de Pelé, Pepe, Coutinho, Zito e Mengálvio, que era então o melhor time do mundo e Pentacampeão da Taça Brasil (61-65,) fez com o Cruzeiro uma mudança no futebol brasileiro. Saíram do eixo Rio-São Paulo e fizeram a final do grande campeonato do país, que era disputado pelos campeões estaduais. Os melhores times dos país em uma grande peneira.
No primeiro jogo, o Cruzeiro goleou o Santos no Mineirão por 6 x 2. No segundo ganhou de virada dentro do Pacaembú por 3 x 2 e conquistou o título.
Na volta, festa na casa da "Nonna".

CRUZEIRO ESPORTE CLUBE - TOSTÃO

Cresci assim! Domingão era sempre festa na casa dela. Não importando o dia da semana que fosse meu aniversário, a comemoração era no domingo seguinte, na casa da "Nonna", com aquele timaço e suas famílias fazendo parte dos  convidados. Ainda tenho uma miniatura de sua camisa amarela, dada a mim pelo Raul, em meu 5º aniversário. Outros tempos.
Quando minha "Nonna" morreu, lembro-me bem do seu enterro. Seu caixão foi coberto com a bandeira do Cruzeiro e Felício Brandi, então presidente do clube, segurava a primera alça. Após o enterro, chororô e festa na casa da "Nonna", sem a "Nonna". Esta foi a última.
Como disse, nasci cruzeirense. Mas a alguns anos virei o pior da espécie dos torcedores, o vira folha.
Assisti a um jogo do Barcelona e quando o jogo acabou, dentro de mim surgiu aquele sentimento de conforto, de família. Que futebol lindo, ganhando ou perdendo! Era aquele futebol que eu aprendi na infância, como o que tem que ser jogado.
Continuo sendo Cruzeirense, mas hoje por escolha, torço pelo Barça.

POSTER COMEMORATIVO FC BARCELONA - JOAN MIRÓ

Comecei a estudar a história do clube e aí me apaixonei.
Parece um romance de Charles Dickens.
Pinçando apenas alguns acontecimentos, o fundador suíço foi obrigado a deixar o clube (que foi fechado por 6 meses pelo ditador Rivera) e foi exilado, se matando anos depois. 
Outro presidente do Barça, Sunyol, foi assassinado pela guarda do ditador seguinte, Franco.
Franco proibiu a língua catalã, que passou a ser usada publicamente só dentro do estádio do Barça, como forma de rebeldia e protesto da população. Deu um estádio para o Real Madrid, tirou seu maior jogador, Alfredo Di Stéfano, e o passou para o rival. Censurou e mudou o escudo do Barça.
Ameaçou de morte os jogadores e seus familiares, caso o Barça vencesse uma decisão contra o Real.
Por estas e outras, o lema do time é  " Més que un club"="Mais que um clube"! 
Enfim, melhor que "The Christmas Carol", "David Copperfield" e "Oliver Twist" de Dickens, juntos.
Para mim, hoje, o Barça tem o melhor time do mundo.
Futebol preciso, quase cirúrgico, harmônico e de alma.
E temos Lionel Andrés Messi Cuccittini. A "Pulga".

LIONEL MESSI - TREINANDO COMO GOLEIRO - BARÇA

Particularmente, acho difícil comparar times atuais a de outras épocas. 
Pelé, Di Stefano e Garrincha, eram excepcionais jogadores que jogavam contra times de totó, pebolim, anos luz atrás de sua técnica.
Compará-los aos jogadores de hoje é no mínimo infantilidade. Hoje existe uma menor disparidade entre os atletas e há um número enorme deles, de altíssimo nível, principalmente jogando na Europa. Para se ter uma idéia, antes da magérrima vitória de 2x1 sobre a "BOSNIA" no iníco deste mês, a maior vencedora de Copas do Mundo, a quase imbatível Seleção Brasileira, ocupava a sétima posição no ranking mundial da FIFA. São mesmo outros tempos.
Hoje, Messi pode ser considerado o melhor de sua era.
Avesso à midia fora do campo, badalações, cortes espalhafatosos de cabelo e dancinhas comemorativas, é focado no jogo.
Não gosta de falar dele, não fala dele na terceira pessoa, simplismente não fala dele.
Joga com e para seu time, que é também sua família.
Assim, quando marca seus golzinhos, não dança, não comemora criando uma marca pessoal, não corre empurrando os colegas de trabalho. Corre sim, para um abraço de todo o time e aponta para Guardiola, como que compartilhando com o "Mestre", aquele momento que é a paga pelo árduo trabalho de todos.
Porque sabe que a verdadeira grandeza é avessa ao ego e o futebol é um jogo coletivo. Apanha o jogo todo, recebe falta sobre falta e tenta de toda forma continuar jogando... pelo seu time.

FC BARCELONA

A mentalidade Guardiola, seus jogadores como Messi, a torcida = Barça = Coletivo = Futebol.
O engraçado é que quanto mais Messi joga e se esconde dos holofotes, mais faz por merecer as capas das maiores publicações mundiais semanalmente.
O exemplo a ser seguido, o gênio e o ET, são umas das formas de descrição de Messi que saíram nestas publicações também nesta semana.

PEP GUARDIOLA - FC BARCELONA

Quarta-Feira, 20 de Março de 2012, se tornou o maior goleador da história do Barça em jogos oficiais, com 234 gols marcados.
Aí, claro, pipocam de todos os lados, comparações estatísticas, com jogadores de outras eras, quando o jogo era outro.
Uma delas eu gosto. Entre um baixinho e um gigante! "Messi é novo Michael Jordan".
Acho bacana a comparação. Incomparável pelo tipo de esporte, mas válida pela representação da mudança, da categoria, da genialidade. Seria mais ou menos como dizer que Messi é o novo Jimi Hendrix, o novo Chaplin, o novo Einstein ou o novo Steve Jobs.
É, Messi é o novo Steve Jobs, um marco, um ponto de referência do Século XXI.
Outra "menos emblemática" me chama a atenção por ser mais próxima da realidade.
Messi é o maior goleador do time que teve há algum tempo, jogadores como Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Ibrahimovic, sem contar outros cracaços. E só nos últimos anos, mudou de função dentro do time, se aproximando da artilharia, sendo que provavelmente ainda teremos gols dele nos próximos 10 anos.
Nesta temporada, faltando talvez uns 20 jogos entre La Liga, Copa Del Rey e Champions League, Messi já deixou o seguinte rastro:  54 gols e 24 assistências. Que Beleza!
Messi bateu o recorde de 232 gols de César Rodríguez. Rodrigues no início dos anos 50, já mostrava qual era a mentalidade do Barça. Em um jogo em que o juiz errou e apitou um pênalti inexistente a favor do Barça, César não concordando com a situção, não bateu como era seu costume e marca registrada, uma bomba certeira. Apenas atrasou a bola para o goleiro. Fair Play é isso.

LIONEL MESSI

Hoje, arranho uma mixaria de Catalão, porque por fazer parte daquela familia, ao cantar o hino do Barça, quero saber exatamente a tradução em palavras daqueles sentimentos.
Quando Messi abraça Xavi, Iniesta, Daniel, Cesc, Villa e todo o time, seus braços chegam até mim e me levam à casa da minha "Nonna", na minha infância, com minha família e aquele meu time de futebol perfeito.
Luigi Russo, o vira folha, com muito orgulho.

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