sexta-feira, 13 de abril de 2012

O ROCK'N'ROLL, AS ARTES EM GERAL E AS MINORIAS INTELIGENTES.


Por Luigi Russo




"Ao Mestre Com Carinho".
Este é o título em português (To Sir, With Love), de um clássico do cinema, lançado em 1967.
Espetacular atuação de Sidney Poitier, interpretando um engenheiro desempregado, que vai dar aula em uma escola pública cheia adolecentes problemáticos (adolecentes problemáticos!? Redundância!) no bairro operário de East End, em Londres.
Lugar comum. Mas quando feito, estava na vanguarda e até hoje é um dos mais relevantes a retratar aquela realidade nas telonas.
Mas a forma com que o Sr. Poitier constrói o personagem e o interpreta, mostra que tipo de ator é,  confirmando a fama de ser um dos melhores de sua época, que com sua interpretação tocou toda uma geração. Ele foi inclusive o 1º ator negro a ganhar o prêmio Oscar na categoria ator principal, pelo filme "Uma Voz nas Sombras" (Lilies of the Field) em 1964. Feito só realizado por mais 3 homens em 83 anos da premiação anual.
Poitier recebeu em 2000, seu segundo Oscar, desta vez pelo conjunto da obra.
Até outro ator negro ganhar o prêmio, se passaram 38 anos, quando Denzel Washington o fez em 2002 por "Dia de Treinamento". Depois vieram Jamie Foxx em 2005 por "Ray" e Forest Withaker por "O Último Rei da Escócia".

                           Mr. Poitier nos anos de 1964 e em 2000, segurando seus merecidos Oscars.
















Estamos tratando então de arte que por ser o que é, toca as pessoas. E sobre minorias.
Em 12 de Maio deste ano, teremos em Belo Horizonte um show que com certeza tocará seu público, Crosby, Stills & Nash. Sensacional harmonização de vozes, violas e guitarras perfeitas.
Uma passagem para outra dimensão para os fãs ali presentes. C, S & N, fazem parte de uma minoria que correu na contramão do mainstream. E sua banda está na ativa desde 1969.
Imperdível! Setlist com 25 músicas e acho que vou tomar uma 1 garrafa de Jack Daniel's, só para ficar tranquilo quando começarem a tocar "Almost Cut My Hair", " Woodstock", "Wooden Ships"...




Para esta noite ser perfeita, tudo que eu queria como espectador, seria assistir a abertura deste show, feita por Guilherme Bizzotto.
Sim, Guilherme Bizzotto é com muito orgulho, minoria. Minoria que faz arte da melhor qualidade e toca quem a presencia.
   

Acho que isto acontece, quando quem a faz, a sente e a faz com extrema honestidade. Com total
coerência, dentro da incoerência mutante que habita os verdadeiros artistas.
Lembro-me que, talvez há uns 25 anos, procurei Guilherme e perguntei se ele poderia gravar um jingle (mensagem publicitária em forma de música, de fácil assimilação) para uma campanha política feita pela agência publicitária em que eu trabalhava.
Nunca mais me esqueci daquele dia.
GuiGillan, como eu o chamava, por ser impossível distingui-lo de Ian Gillan vocalista do Deep Purple cantando (quando ele queria, porque  faz o que quer com sua voz) me deu uma aula, sobre o material de que é feito o tipo de artista ou ser humano, que chamo de minoria.
Esta gravação daria a ele uma boa grana. Boa mesmo. GuiGillan é uma pessoa de vida modesta, morava em uma casa modesta, não tinha carro e como todos, contas a pagar.
Naquele dia, ele foi para mim, o personagem representado por Sidney Poitier em "To Sir, With Love". Com 7 palavras, ele abriu uma nova porta em meu mundo. Mundo de quem trabalhava com a criatividade urgente, da corrida atrás de resultados imediatos da publicidade.
Sua resposta foi: "- Minha voz não foi feita prá isso."
Na hora tomei um susto. Ao procurá-lo, pensei que seria demais tê-lo como parceiro de trabalho, nosso jingle iria arrebentar porque a voz dele é demais e meu amigo ganharia uma bela grana.
Depois disso, quem acabou gravando o jingle, foi Ed Motta.
Tempos depois, resolvi alinhar minha "criatividade urgente" à forma de pensar de Guilherme Bizzoto,
procurando novos caminhos, pavimentados pelas minhas crenças.
Uma semente que mudou minha vida, foi plantada naquele dia, mostrando boas estradas para dar os firmes passos, que formam o homem ainda em construção que hoje sou.

                                                   Guilherme com semblante de intensa preocupação...

Agora descobri que sábado, dia 5 de Maio, vai haver o lançamento de seu novo trabalho chamado "Pão" aqui em BH, no Teatro Izabela Hendrix. Como ele disse, juntou a grana, alugou o teatro, chamou os caras, pronto.
Guilherme é autor de Machado de Guerra, na minha opinião uma das melhores músicas produzidas pelo Rock'n'Roll de verdade, aqui no Brasil.
Seu cd CUBU (que foi gravado em seu quarto, com ele cantando e tocando todos os instrumentos) é sem a menor dúvida, um dos melhores brazukas da minha coleção, que não é pequena. O dia em que cheguei a uma loja e vi o cd, nem pensei 2 vezes ao colocá-lo sobre o balcão do caixa, na pilha já reservada. Só por ser dele, já sabia que seria bacana. Mas quando cheguei em casa e o ouvi, putz!!!
Como se já não bastasse cantar daquele jeito, o cara é um multi-instrumentista da pesada!



Escrevo isto hoje, depois de ler duas coisas que ele escreveu esta semana. Uma ligeira descrição de passagens da infância e da vida recente, que é pura poesia.
Todas as pessoas que habitam aquela cabeça e aquele corpo, sempre me surpreendem. Quem já o viu docemente pela vida e animalesco quando sobe em um palco, sabe o que digo.
GuiGillan é uma pessoa Power Zen.
Há anos não nos vemos ou falamos, mas quando se gosta de alguém, o tempo e a distância desaparecem imediatamente, quando há um reencontro. Eu nunca disse a ele, que o acho uma das mais respeitosas, competentes e importantes pessoas, que fazem e vivem de sua arte, que já conheci. E olha que por força da profissão e da vida, conheci muitas, mas muitas destas pessoas.
Definitivamente, para meu orgulho de amigo, como Sidney Poitier, Bizzotto faz parte de uma minoria.



Mas sábado dia 5 de maio, direi a ele pessoalmente, me empanturrando de "Pão" no Teatro Izabela Hendrix.
Então dia 5, merda ao mestre, com carinho...

Um comentário:

DIZ AÍ, QUE A GENTE QUER TE OUVIR!?!