Gabrielle Bonheur Chanel, ou Coco (não Côco, nem Cocô, heim!, apesar de em francês a pronuncia estar mais para a segunda opção), apelido que ganhou na adolescência e assumiu como nome, é uma mulher digna de observações!
Chanel na porta de sua loja de chapéus |
Fundadora da Maison Chanel, nasceu em Saumur, na França em 19/03/1883, e morreu em Paris, no Hotel Ritz, onde morou por muitos anos, em 10/01/1971, aos 87 anos, ainda ativa e trabalhando.
Chanel foi uma mulher intrigante e que quebrou vários paradigmas do que sempre foi considerado certo ou errado. E do que seria o padrão ou o caminho correto para uma mulher ser bem sucedida.
Coco Chanel |
Ela foi uma mulher à frente do seu tempo, visionária, revolucionou a década de 20, libertando a mulher das roupas desconfortáveis e rígidas do Séc.XIX. Imaginem que naquele tempo as mulheres andassem vestidas mais ou menos assim, como aí nas imagens abaixo: uma mistura de falta de ar com excesso de pano.
Aí, vem Chanel e propõe tirar todas as armações e amarrações das roupas e dar liberdade ao corpo das mulheres! E passa a adotar roupas, silhuetas ou tecidos, antes apenas do guarda-roupa masculino para as roupas femininas também!
Sua mãe, que era doméstica, morreu de tuberculose quando ela tinha 6 anos, e seu pai, feirante, colocou a ela e suas irmãs no colégio interno.
Quando conseguiu sair, tentou algumas coisas na dança e no teatro (o apelido Coco vem daí, de uma música que cantava "Qui qu'á vu Coco dans I'Trocadéro?"), mas logo procurou emprego e começou a trabalhar no comércio.
Coco, além de não ser exatamente uma "beleza" de mulher, tinha temperamento forte e opinião, coisas que não ajudavam em nada uma mulher da sua época. Mesmo assim, foi morar com seu primeiro "namorado", Etienne Balsan (1880-1953), rico herdeiro de uma famosa fábrica de tecidos e criador dos melhores cavalos da França.
Quando percebe que Etienne já não a trata da mesma maneira, o abandona. Começa então um relacionamento, com o homem que diz-se, foi o grande amor de sua vida, Arthur Capel "Boy", um milionário inglês, que bancou sua primeira loja de chapéus. Com ele, Chanel aprendeu a frequentar o mundo sofisticado da "Cidade Luz" e viu sua loja se tornar um sucesso, aparecendo em matérias das principais e mais importantes revistas de moda.
Capel morreu em um acidente de carro, às vésperas do Natal de 1919, um ano depois de ter deixado
Coco para se casar com uma nobre inglesa e do fim da guerra, onde lutou pelo exército inglês.
Tanto Balsan quanto Capel, que eram amigos, mantiveram seus relacionamentos com Chanel, por algum tempo paralelamente e envolvendo outras mulheres. Os dois ajudaram Coco com imóvel e dinheiro, inclusive para a abertura da loja da 31, Rue Cambon, em 1911, onde a Maison Chanel também está até hoje.
Mulheres como ela, naquela época, que viviam com homens sem serem casadas, eram chamadas de "mastigadoras de diamantes" ou "irregulares". E isso era o que Chanel foi aos 23 anos!
Uma "irregular mastigadora de diamantes", modista, dona de uma loja de roupas e chapéus!
Chanel se tornou amiga de grandes personalidades de sua época, tais como Pablo Picasso, Luchino Visconti, Greta Garbo, o bailarino russo Nijinsky e Jean Cocteau (que sustentou até que ele morresse). Namorou alguns, inclusive o compositor russo, Igor Stravinsky, mas por poucos meses.
Quando namorou um príncipe russo, Dmitri Pavlovich, falido por ter abandonado sua família, levou sua influência para as roupas, colocando nelas bordados do folclore russo.
Vidinha nada monótona, digamos!
Suas "invenções" foram todas baseadas na observação e na necessidade do momento!
Aos vestidos sóbrios, acrescentava acessórios exóticos como gravatas e paletós, que ia buscar no armário do companheiro. Passou a adaptar roupas masculinas para as mulheres.
Passando o verão no balneário de Deauville, com "Boy", cortou uma malha, um suéter, em toda frente, pois não queria vesti-lo pela cabeça. Improvisou uma espécie de gola, um cinto e 2 bolsos enormes "na altura exata em que as mãos gostam de descansar", descreveria depois, com os retalhos. Lá mesmo recebeu pedidos de 10 iguais. Criou assim, o até hoje famoso, "cardigan".
Fez blusas de "gola rôle" por causa do que via os marinheiros usarem. Na loja vendia blusas de listras finas azuis e brancas, feitas de tricô ou malha, até então considerados materiais pobres, também inspiradas neles, as transformando em um clássico do estilo "navy" que criou, na moda até hoje.
Achava que as mulheres usavam qualquer coisa, que penduravam até fruteiras na cabeça e arrastavam saias enormes pelo chão e pela areia da praia. "Uma moda totalmente inadequada", dizia.
Adotou calças masculinas, pois as considerava confortáveis e de corte elegante. Inventou a calça "pantalona". E encurtou o comprimento dos vestidos, mostrando os tornozelos, pela primeira vez.
Como se não bastasse as roupas que criava, seu comportamento provocador acabou por transformá-la em uma celebridade aos 30 anos de idade. Ela contava que pessoas passavam na frente da loja apenas para vê-la, "Eu e minha cabeça em cima do pescoço." Foi a primeira mulher a fazer e usar um maiô, também feito de uma das malhas de "Boy".
A guerra, que começou em 1914, também acabou por ajudá-la, pois as mulheres com dinheiro que abandonaram Paris mas continuaram em Deauville, agora sem motoristas e mordomos, precisavam de roupas mais despojadas e confortáveis para andarem a pé em suas caminhadas. E ninguém queria ostentar roupas sofisticadas em tempos magros como o de guerra. Fez e vendeu, aos montes, vestidos de "jersey", um tecido barato, que o fabricante temia não conseguir vender para mais ninguém.
Além disso, Coco inventou moda, também fora do guarda-roupa; cortou os cabelos curtos na altura do queixo, como só as artistas faziam, e lançou o corte "Chanel", copiado no mundo todo e considerado o corte de cabelo mais elegante de todos. Foi também a primeira mulher "da sociedade" a frequentar os salões requintados, com a pele bronzeada, coisa até então considerada de pessoas pobres.
Em 1921, lançou o primeiro perfume industrial desenvolvido por uma marca, no mundo.
O Número 5, nome que recebeu, contém 80 substâncias, é até hoje o perfume mais vendido de todos os tempos e revolucionou o indústria da perfumaria. O nome vem do número da amostra que ela escolheu, entre 8 diferentes possibilidades. O vidro, de linhas simples inspirado na "Art Deco", é reverencialmente chamado pelos perfumistas de "le monstre" (o monstro) e sem dúvida o perfume de luxo mais cobiçado do mundo.
Marilyn Monroe dizia que dormia, "vestindo" apenas 2 gotas dele!!
Três anos depois, lançou o vestido preto de crepe, que hoje é chamado "pretinho básico", sugerido por ela como garantia de elegância atemporal. Suas clientes, acostumadas a comprar roupas exclusivas e diferenciadas estranharam, mas após verem a revista VOGUE os comparar aos carros modelo "T" Pretos da Ford, objetos de desejo, se tranquilizaram e adotaram, o transformando em outro ícone da Chanel.
Ela também sugeria à suas clientes que usassem bijouterias misturadas as suas jóias.
Criou colores de pérolas falsas, que elas usavam quando saíam às ruas.
Criou também, um broche da flor "camélia", usado e copiado até hoje, símbolo da Chanel.
Defendia o luxo íntimo, no lugar da ostentação!
O segundo homem que Chanel dizia ter amado na vida, foi o Duque de Westminster, a maior fortuna da Inglaterra na época, Hugh Richard Arthur Grosvenor.
Se inspirando no guarda-roupa dele, criou o "tailleur" de "tweed", blazer feminino usado com saia, sobre o qual colocava suas bijouterias barrôcas.
Durante a Segunda Guerra, fechou suas lojas e foi trabalhar como enfermeira voluntária.
Manteve um relacionamento com um alemão nazista, o que após a guerra foi muito mal visto em seu país, tirando sua clientela das lojas e causando sua saída da França, quando passou a morar na Suíça e vender suas roupas apenas para outros países.
Sua volta para casa acontece em 1954, mas sua clientela não retorna para junto dela.
Quem resgata seu prestígio e suas finanças é Jackie Kennedy, admiradora de suas roupas e sapatos. Unindo sua imagem a de Chanel, a leva de volta às revistas e manchetes, devolvendo seu sucesso.
Aos 70 anos de idade, assume novamente seu trabalho, posto que não abandonou até o fim de sua vida. Sempre preferiu o trabalho a conveniência de um casamento formal e montou sozinha um império. Criou roupas e acessórios que hoje estão expostos em museus.
À afirmação de que havia precedido o movimento feminista e à de que foi uma autêntica self-made woman, já no início do Séc.XIX, ela rebatia.
À de que teria sido pioneira na arte do design de moda, ela retrucava: "Moda não é arte, é negócio".
À de que sua independência a tinha lançado em um mundo antes dominado pelos homens, ela respondia: "Uma mulher que não é amada não é ninguém. A solidão pode ajudar um homem a se encontrar, mas destrói uma mulher".
Independente, bem sucedida, de personalidade e estilo forte, teve uma existência agitada. Personagem dinâmica, empreendedora, sujeita a tempestades de raiva e alfinetadas venenosas quando ameaçada, o paradoxo marcou sua vida: uma dama de ferro sonhadora, revolucionária de estilo clássico, ousada e alérgica a grandes extravagâncias.
Seu sucesso começou por suas idéias diferenciadas e sua forma bastante peculiar de ver a moda.
Odiava sua origem, negava a existência de irmãos e pagava a eles para que nunca aparecessem.
Nunca quis se casar, não teve filhos.
Mas, criou também o baton mais vendido do mundo, o esmalte mais vendido do mundo, a bolsa mais famosa do mundo (a 2.55 porque foi criada em fevereiro de 1955 - tem correntes como alça e surgiu de sua necessidade de ter as mãos livres para fazer as coisas), o sapato mais copiado do mundo, o "scarpin" bicolor (feito assim para dar a ilusão de pés menores ou maiores, dependendo da disposição da cor), os laços na roupa e nos cabelos e outras tantas peças do vestuário que atravessaram o tempo.
Chanel - Primavera 2011 |
Após reinaugurar sua loja em Paris até sua morte, Chanel trabalhou de segunda à sábado, sem exceção. Mas morreu num domingo, dia da semana que dizia odiar: "Só aos domingos não invento nada".
Desde 1983, o estilista alemão Karl Lagerfeld, é o diretor de criação da Maison Chanel, tanto de alta costura quanto prêt-à-porter.
Então, recaptulando: abandonada pela família, criada em orfanato, sem instrução. Feia, se relaciona por interesse apenas com homens ricos e influentes. Exótica, fora dos padrões, usa roupas de homem, se comporta de forma livre e namora ambos os sexos, as vezes ao mesmo tempo.
Não segue os padrões sociais da época e trabalha, coisa que só mulheres artistas e operárias faziam, por extrema necessidade.
Namora um nazista.
Faz e diz o que quer, até o fim da vida, sem se preocupar com a opinião dos outros.
Não se casa, nem tem filhos, o que até hoje incomoda.
E aí, qual a conclusão de nossas observações ????
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DIZ AÍ, QUE A GENTE QUER TE OUVIR!?!