sábado, 25 de fevereiro de 2012

AS MARCAS QUE CRIEI NA MINHA CABEÇA!


Já escrevemos aqui sobre o que considero ser a "Santíssima Trindade" do vestuário: T-SHIRTS, JEANS e a JAQUETA PERFECTO!
Essas três peças de vestuário podem ser consideradas as bisavós de todas as peças de roupa que hoje conhecemos e seus desdobramentos. 
Claro que poderíamos incluir aqui os vestidos, que se patiram em saias e blusas e outros tantos exemplos mas, as três apresentam coisas em comum que as diferenciam das demais.
Essas 3 se transformaram em mega ícones e, quando da sua "invenção", não tinham um propósito de estilo ou moda. 
Ao analisarmos a história de cada uma dessas peças percebemos, que até um determinado período de tempo, as roupas tinham uma função prática e sua criação se prestava exclusivamente a resolver "um problema". Fossem para aquecer, lutar, absorver o suor, proteger, recatar, resistir ao esforço, executar tarefas pesadas, suportar o calor, entre outras coisas, todas tiveram um histórico de utilidade em seu nascimento, se prestaram a uma função, tiveram razão de ser, foram necessárias, e por isso inclusive, foram aceitas e adotadas pelos consumidores e se transformaram em produtos de sucesso.
Ou seja, primeiro elas existiram e depois viraram objetos de desejo.



À partir de um certo período, perto dos anos 50, quando da sua utilização pelo cinema e divulgação pela mídia de comportamento, é que as roupas passaram a ser criadas e produzidas sem "razão de ser", apenas objetos de consumo.
E objetos que antecedem o desejo.
Temos que levar em consideração para entender melhor esse fato, que o mundo até então era "pobre", havia passado por enormes crises econômicas e as duas Grandes Guerras Mundiais, praticamente em sequência, restringiram muito o bem-estar das pessoas, privando-as de várias possibilidades de acesso. E por outro lado, que essas mesmas Guerras deixaram também como resultado, fartos recursos para os vencedores, grandes invenções, novos materiais, costumes arraigados e produtos, que depois de terem sido desenvolvidos para "a guerra" e erguido fábricas para sua produção, precisavam encontrar novos consumidores, para manter as coisas funcionando e empregar uma massa de mão-de-obra sobrevivente disponível, que não estava mais empregada na "guerra".


E assim, até hoje, coisas são inventadas, criadas e produzidas para depois serem apresentadas aos consumidores, levando-se em consideração mundialmente, quais matérias-primas estão mais disponíveis, quais cores precisam de mais saída, quais indústrias estão em defasagem, onde se precisa gerar mais emprego. E também como instrumento coletivo de influência, sinalizando um suposto estado de espírito mundial, valorizando países e etnias necessitadas, falando indiretamente sobre o momento político, social e econômico do mundo, em um determinado período.


Daí surgem o que hoje chamamos de TENDÊNCIAS, quando as cores, formatos e design de tudo, são decididos, combinados e divulgados com anos de antecedência para os produtores, que assim tem tempo hábil de criar e desenvolver os nossos futuros sonhos de consumo.
Então, diferente do passado quando éramos senhores dos produtos, demandávamos e aceitávamos uma peça para nos facilitar e melhorar a vida, atualmente estamos a serviço dos produtos e seus fabricantes, sendo influênciados e convencidos da necessidade que teríamos deles, comprando e acumulando coisas que nem sempre usamos ou que descartamos rapidamente, pela próxima novidade apresentada.


As "BRANDS" ou "MARCAS" foram anexadas aos produtos no passado, apenas como um NOME, um batismo, para garantir autoria, dar direito de propriedade e diferenciar um produtor de outro.
Marca é a representação simbólica de uma entidade, qualquer que ela seja. Algo que permite identificá-la de um modo imediato como, por exemplo, um sinal de nascença, digital ou uma simples pegada no chão. Na comunicação, pode ser um signo, símbolo, um ícone ou uma simples palavra.


Hoje, as marcas representam muito mais do que isso.
Comunicam a "promessa" de um produto, seu diferencial frente aos concorrentes que as fazem especiais e únicas, associadas a uma personalidade ou uma imagem mental. Assim, pretendem MARCAR seu valor na mente do consumidor, isto é, associar sua imagem à qualidades e valores do produto. Em função disto, uma marca pode formar um importante elemento publicitário.
Marca não é um conceito fácil de definir. Na sua análise devem-se levar em consideração vários níveis de significado, entre eles cultura, atributos ou benefício. É fundamental entender que o conceito de marca é mais intangível do que tangível, pois os consumidores as vêem e interpretam, tem sensações, experiências e percepções diferentes.


Tenho um conhecido que compra e valoriza marcas caras e reconhecidas internacionalmente e tem preferência por peças que carreguem a marca do fabricante em tamanho GRANDE e visível em seu design. Para ele, um produto caro e reconhecido internacionalmente também é sinônimo de qualidade. Certa vez ele disse: "Para que usar um produto, se ninguém verá através do logotipo da marca aparecendo, que paguei caro por ele e que é famoso?" Na compreensão dele, poder pagar por aquela determinada marca, reconhecida como importante e cara em seu círculo social, lhe acrescenta status, poder e valor, o inclui no grupo que admira, logo a necessidade de exibí-la!


Em tempos de globalização, queda das fronteiras e barreiras mundiais e o grande peso da abordagem das empresas publicitárias, criou-se um novo conceito para as marcas e diversificaram-se suas categorias.
Vamos a um exemplo! Por que algumas pessoas pagam 5 vezes mais por uma camiseta branca de uma determinada marca do que por outra igual, com a mesma qualidade, produzida pelo mesmo fabricante terceirizado, mesma modelagem, mesmo tecido, mas sem marca famosa?
Quando determinados consumidores optam por comprar uma camiseta "tão mais cara", estão pagando por muito mais do que uma boa peça. Estão comprando "sentimentos", benefícios emocionais e satisfação abstrata. Como nosso conhecido acima, que se utiliza de suas aquisições, para reforçar a imagem de sucesso e poder que ele acredita merecer e necessita que "os outros" vejam nele. Assim, a motivação da compra está relacionada a necessidade, que vem do desejo individual de cada consumidor.
Para uns é a comprovação do sucesso financeiro, para outros o desejo de ser aceito, pertencer a uma determinada tribo, se mostrar antenado e bem informado, se igualar, encaixar, ou parecer mais jovem, parecer mais velho, mais relaxado ou mais responsável. São tantos os desejos e códigos transmitidos através dessa ferramenta, que tornam praticamente impossível uma generalização de abordagem.

VESTIDO MAIS CARO DO MUNDO - 759.987,20 EUROS
Peça única, da marca VOLKSWARE, confeccionada com 7531 etiquetas de marcas famosas.  

Claro que alguns produtos ou mesmo roupas, ditas caras, valem realmente o valor pedido por elas. Sejam por sua exclusividade e diferencial, por serem feitas à mão ou artesanais, longe das produções massificadas e chinesas de má qualidade, sejam por seu conceito único e especial, por terem demandado séculos de pesquisa e trabalho para sua excelência ou simplesmente pelo fato de que "caro" é um conceito pessoal e intransferível: caro para uns, barato para outros.
Pessoalmente acredito que caro, independente de escala de valor é alguma coisa pela qual se pagou e não se recebeu o resultado ou benefício esperado. Seja uma bala ou uma Ferrari!
A globalização nos tempos modernos trouxe uma nova questão, que acredito vá moldar nossas futuras relações com marcas e consumo. Hoje, quase todos em qualquer lugar do planeta, parecem iguais, se vestem de forma muito similar, tem linguagens comuns, tem acesso aos mesmos canais de informação, viajam mais, sem falar na maior e mais constante mistura entre povos, culturas e raças diferentes, criando novas gerações com características físicas mais miscigenadas e universais. Isso acaba por criar um desejo e uma necessidade de diferenciação que o uso de uma determinada roupa ou objeto permite, de forma relativamente barata e fácil. Seja através de uma roupa "vintage", um acessório único, uma peça de família como uma bolsa de "avó", um relógio do avô, um chapéu de época, um sapato da mãe, um objeto de design retrô em casa, um carro antigo restaurado, e outras tantas opções, as pessoas podem falar de sí de forma mais singular e delimitar seu espaço e individualidade.


Sem falar que a alta demanda por determinadas marcas e peças específicas, que em princípio não são acessíveis a qualquer pessoa, acabou por criar um imenso mercado de cópias e falsificações, que derramam pelas ruas de quase todas as cidades do mundo, um mar de produtos similares aos originais, tornando difícil ao observador desavisado, diferenciar o original, adquirido por alto valor por pessoas como o nosso conhecido citado e uma versão barata de camelô.

 

O futuro parece ser a pessoa, o INDIVÍDUO e não a MARCA!
Aponta para o momento em que cada um encontrará o que melhor lhe serve, combina com seu estilo de vida, corpo e idade, atende suas necessidades, lhe representa, transmite suas opiniões e idéias, afirma suas posições, cabe no seu bolso, cada vez menos genérico e mais individual!
Isso permitirá que várias "BRANDS" = MARCAS coexistam e que o consumidor encontre as suas.  Que a moda seja cada vez mais democrática e que tendências sejam apenas uma sugestão, mostrando a possibilidade de um caminho em comum e não uma lei ditatorial a ser seguida, que obriga pessoas frágeis a se apresentarem por vezes como ridículas vítimas da moda ou a se individarem para adquirir um produto. As marcas terão que ir cada vez mais de encontro aos seus clientes, aprender a conversar com eles, a ouví-los e voltar, quase como as peças do passado, a encontrar sua razão de ser e existir.


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