Demorei a encontrar um lugar especial, em que me sentisse em casa.
Isso, até conhecer o Particular
Publicado no Jornal OTEMPO em 29/06/2011
Um bar pra chamar de meu
Nunca tive um bar pra chamar de meu. Primeiro, porque só aqui em Belo Horizonte conheci a cultura dos botecos. E mesmo depois de ter sido iniciada por meu amigo Pablo Pires a esse universo, demorei a encontrar um lugar especial, em que me sentisse em casa. Isso, até conhecer o Particular. A bem da verdade, não foi bem o Particular, mas seus donos: Adriana e Luigi.
O Particular fica no bairro em que moro. A princípio, ia lá comprar comida para levar para casa, depois das aulas de pilates. Fazia o pedido e ficava esperando numa das mesas, observando a turma que se amontoava no balcão e que ficava conversando com Dri e Luigi, numa animação de dar inveja.
Um belo dia, resolvi esperar no balcão. Foi quando Dri, do nada, me mostrou um livro e disse: "Acho que você vai gostar disso". Levei um susto e comecei a folhear. Na verdade, o livro era apenas uma desculpa para entabularmos uma conversa. Somos da mesma geração, mas logo percebemos que nossa identificação ia muito além disso.
Hoje, vendo em retrospectiva, não sei quando as conversas sobre amenidades passaram a ser trocas de confidências. Tenho a impressão que conheço Dri há séculos. E vejo nisso um privilégio porque ela não é do tipo que dá conversa pra todo mundo. Sei que me escolheu naquela noite, por alguma razão, e agradeço por isso porque desde então Dri faz parte do grupo das grandes amigas. Durona, mas ao mesmo tempo carinhosa, ela é daquelas amigas que puxa a orelha, chacoalha, mas também bota no colo. Tem uma inteligência para lidar com a vida impressionante. E é linda!
Com Luigi, bem, com Luigi, tudo é mais fácil. Ele é o cara mais simpático do mundo. Bastam cinco minutos de conversa, para se ficar encantado com suas histórias. Histórias, aliás, que ele tem ao montes, uma mais incrível que a outra. Cozinha bem pra caramba (o casal, aliás) e faz uns drinques sensacionais, em que nunca se sabe muito bem o que vai dentro. Fofo, agora que não estou bebendo, prepara umas bebidinhas sem álcool, especialmente pra mim. Além disso, Luigi é o inventor do shot mais delicioso do planeta: o Pavarotti. Leva licor de menta, Baileys e conhaque. Prová-lo é uma experiência sensitiva. Está duvidando, vá ao Youtube e veja o curta que Élcio e Lili fizeram sobre ele (http://www.youtube.com/watch?v=D3sP46FyB1s).
Élcio e Lili, além de amigos do peito, são "particulares" com eu. É assim como são chamados aqueles que têm um lugar cativo no Particular e no coração de Dri e Luigi. Os particulares somos muitos e nosso habitat é o balcão. Somos homens e mulheres de idades, profissões e origens diversos. Tem atleticano, cruzeirense, corintiano, santista, americano... Nos reconhecemos facilmente. Trocamos ideias e provamos um no prato do outro, enquanto ouvimos, invariavelmente, o rock’n’roll vindo das caixas de som e da TV. No Particular, nunca se está sozinho.
Teve uma época que o casal mantinha uma correspondência semanal com os particulares, via e-mail, em que chamavam de Correio Elegante. Basicamente, eram textos - como poderia definir? - que refletiam sobre a vida, e que, de quebra, traziam pequenas homenagens aos amigos, além de videoclipes especialíssimos. Me diz, quem, além dos particulares, tem algo parecido?
Agora, nós, particulares, ficaremos órfãos. Porque Luigi e Dri venderam o bar. Nunca mais as conversas no balcão, regadas a gargalhadas e Pavarottis ...
Mas ficarão Dri e Luigi. Estes, para sempre... Pra que mais?
Sabe que quando li esta frase " Trocamos ideias e provamos um no prato do outro, enquanto ouvimos, invariavelmente, o rock’n’roll vindo das caixas de som e da TV. No Particular, nunca se está sozinho." meus olhos marejaram ! É isto mesmo e muito mais ! Só não sentirei mais saudades porque tudo isto vai ficar guardado no coração ...
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